Muito indignada com o que acabo de ler. Tão indignada que não posso ficar calada.
Vejam ao que me refiro aqui e vejam a história que vos vou contar abaixo. Ela é Real.
Não é impossivel arranjarmos tempo para amarmos e cuidarmos de quem cuidou de nós.
Era uma vez um filho. Filho único.
Criado numa pequena vila piscatória. A mãe trabalhava horas a fio numa fábrica, sem quaisquer estudos, a unica coisa que sabia escrever era o seu nome para assinar o bilhete de entidade e as letras eram tão distorcidas que pareciam de uma criança da primeira classe.
O pai pescador, passou grande parte da infância deste filho no mar, na famosa pesca do bacalhau.
Os barcos não tinham nem 90% das condições que têm hoje. Enfrentavam os grandes temporais do mar, e nem lavatório para lavar dentes tinham.
A mãe rezava para que o seu marido chegasse a casa, era sinal de que estava vivo.
Passados alguns anos este pai volta do mar e reforma-se, o seu filho já crescido e acabado de se casar fez-se à vida.
Tinha em casa o exemplo de pais trabalhadores que tudo o que tinham era do suor do seu trabalho.
Pessoas muito simples, falavam muito alto, diziam algumas asneiras, algumas delas tão altas que os vizinhos da rua ouviam.
Estes pais já eram conhecidos na vila.
Este filho, decide ter o seu primeiro filho. Veio uma menina.
Menina esta que desde pequenina chorava e berrava porque queria ficar com a avó da aldeia.
A filha cresceu e foi para a escola primária que ficava ao lado da casa dos avós.
A avó todos os dias no intrevalo da manhã ia ao portão do recreio e chamava a neta para lhe entregar o pão com chouriço quentinho acabado de sair do forno de lenha da padaria.
A neta saia da escola à hora de almoço e todos os dias com amor a avó preparava o mesmo bifinho de peru com batatas fritas porque era a única coisa que a criança gostava, como a mãe e o pai estavam a trabalhar e não viam a avó fazia à neta todas as vontadinhas.
Esta neta sentava-se ao lado do avô e pedia-lhe se podia por nos bonecas do canal 2 da televisão, este avô dizia sempre sim. Ali ficavam a ver os bonecos animados.
à tarde os pais da menina vinham buscá-la e o filho todos os dias ia ver se os pais estavam bem e se precisavam de alguma coisa.
A vida deste filho foi a mais dificil possivel e imaginária. Foi roubado, foi burlado e no seu inicio de vida de casado viu-se individado até ao pescoço devido ás burlas por que passou.
Trabalhava de manhã à noite sem sessar. Recebia o ordenado e o mesmo era confiscado para pagar dividas aos bancos e finanças. Não ficava sequer com 50 escudos para beber um café. Tinha uma esposa e uma filha para criar e isso ainda lhe deu mais força para lutar.
Para além do trabalho fixo que tinha, arranja outros mil trabalhos á parte para poder pagar as contas do mês e alimentar a familia.
Mesmo com todas as adversidades da vida, decidiu ter um segundo filho. Desta vez veio um menino.
Menino este que passou a ser a luz da vida do avô.
Este avô, reformado do mar e como é habitual para estes homens: levantava-se ás 05h00 da manhã todos os dias, embebedava-se com os homens do mar da aldeia, mas todos os dias as 08h00 da manhã estava em casa para levar o neto à escola.
A escola era a dois minutos da casa dele, mas não havia bebedeira que o fizesse ficar em casa e não levar o neto à escola.
Tudo o que ele não pôde fazer com o filho por estar fora a trabalhar no mar quis fazer pelo neto.
Os anos passaram, e filho deste casal sempre a trabalhar sem ver a luz ao fundo do tunel, as dividas nunca mais acabavam. Ele praticamente não dormia para garantir que nada faltava à esposa e aos seus dois filhos. Trabalhou, trabalhou, trabalhou. Muitas vezes com vontade de acabar com a própria vida, mas olhava para a familia que tinha construido sem ter nada e não era capaz. Muito pelo contrario, ia desencantar forças impossiveis e continuava.
Os pais dele quando faziam aniversário, ia buscá-los para os levar a jantar fora mesmo sem ter.
As crianças foram crescendo, e infelizmente o avô ainda novo nos seus 68 anos quando o médico retira o alcool, começa a surgir na vida dele a maldita doença de alzeimer.
A familia une-se e optaram por não o colocar num lar. O filho defendia que se o pai fosse para o lar ia acabar por morrer sozinho e muito mais rápido.
Ficaram com ele em casa, a esposa cuidava dele todo o santo dia, tinha apenas umas senhoras da santa casa da mesericordia a fazer a ronda aos velhotes e todos os dias por volta das 11h00 apareciam para dar um banhinho nele.
A neta com 17 anos prometeu ao pai e à avó que ia cuidar do avô todos os dias até ele ir para o céu.
A menina estudava na secundária, saia das aulas, e apanhava o comboio todos os dias para ir ter com os avós e poder cuidar deles.
A avó chorava porque via o marido a piorar todos os dias e sem conhecer ninguém.
A neta com o maior dos amores chegava, dava o banho da noite se fosse necessário, carregava com ele, falava com ele como se fosse uma criança, porque no estado em que estava era mesmo uma criança sem capacidade para entender o que se passava. A avó fazia nestum para o jantar dele porque já não conseguia comer comida sólida e a neta dava-lhe o jantar à boca do avô.
Cortava-lhe as unhas, o cabelo e passava creme nivea na face para hidratar a cara do avô.
Preparavam a cama especial dele, no sofá no resto chão porque ele já não tinha capacidades motoras de subir ao primeiro andar onde era o seu quarto.
Este sofá tinha de ser revestido com material médico especial porque ele estava tão debelitado que o corpo eram apenas ossos e pele acordando todos os dias com as costas negras por ter dormido algumas horas de barriga para cima.
A neta fazia-se de forte para não deixar a avó triste, mas sempre que não aguentava fechava-se na casa de banho chorava, limpava a cara e voltava para junto deles de forma a que não vissem que ela estava a sofrer com a situação.
O filho todos os dias ia lá a casa duas vezes para garantit que os pais estavam bem e fazia tudo o que fosse necessário para os ajudar mesmo com a sua vida do avesso.
Não tardaram muitos meses, o senhor foi internado, a doença avançou mais rápido do que se esperava, esteve apenas meia duzia de dias no hospoital.
O filho e o neto foram num dia lindo de sol visitá-lo, ele olhou para eles, sorriu e morreu.
Acho que este senhor morreu com a sensação de que tinha cumprido a sua missão na terra. Criou um filho com uma força da natureza indiscritivel e um coração gingante, e que lhe deu um neto que era a riqueza da vida deste avô.
Com a morte do pai, este filho decidiu que a mãe não podia viver sozinha. Era triste demais e não iria permitir tal coisa.
Pegava nela e trazia-a todos os dias para sua casa da esposa e dos filhos.
No dia seguinte leváva-a para sua casa na aldeia, ela ainda tinha força e alguma saúde e gostava de estar na casa dela durante o dia e ir ao café com as amigas.
Lá vinha o filho ao final do dia buscá-la para estar com eles à noite e dormir lá.
O filho desta senhora após o pai ter falecido conseguiu após quase 20 anos de sofrimento limpar o seu nome e pagar todas as dividas.
Comprou finalmente uma casinha, a sua primeira casa com o seu nome e da esposa.
Haviam 3 quartos. Um para ele e a mulher, outro para o filho e outro da sua menina que dividia o quarto com a avó com a maior das alegrias.
Ao domingo à noite este filho ia sempre buscar mc donalds para toda a familia, a até a sua mãe comia um happy meal. (uma velhota a comer mc donalds).
Domingo era sagrado. Dava a casa dos segredos.
A avó adorava o programa, deitava-se na cama com os netos e só enchuvalhava as concorrentes, até de vacas as chamava. Os netos riam e riam sem fim.
O domingo era sempre um dia feliz naquela casa.
A avó sempre teve problemas de saude e com o passar dos anos após a morte do marido foi piorando.
A neta era o brilho dos olhos desta senhora. Ela olhava para a neta e dizia: "filha, a avó já não chega ao teu casamento." A neta não acreditava nisso e dizia com todas as certezas do mundo: "tu és a avó mais vivalhaça, mais malcriadona e cheia de força que conheço, por isso sim. Vais estar linda e maravilhosa com uma roupa que vou escolher para ti no meu casamento e ainda vais ter nos braços o teu bisneto."
O tempo passou mais um bocadinho, a neta já tinha terminado os estudos, já trabalhava e o tempo era muito reduzido. A mãe desta neta que estava em casa, cuidava da sogra com todo o amor. Ajudava-a a ir à casa de banho e dava-lhe banhito se ela não conseguisse sozinha, fazia-lhe o almoço e ficava com ela.
O casamento da neta estava próximo. A neta tirou um dia de trabalho, não para tratar do seu casamento porque nunca houve tempo e quem assegurou tudo foi a mãe. Mas a neta tirou uma sexta-feira para pegar na mãe e na avó, levou-as a uma loja que tinha muitas roupas de cerimónia para os mais velhos, enfiou-se com a avó no guarda vestidos e ajudou-a a experimentar todos os vestidos que a neta tinha escolhido.
Não houve dúvidas. Encontrámos o tal!
A avó estava linda, e gostou de se ver, tanto que até dançou no meio da loja e fizemos logo amizade com as senhoras da loja que nos acharam imensa piada.
A avó já não andava muito bem, então a nora e a neta ajudavam-na a andar.
O casamento da menina chegou, a avó na primeira fila chorou durane toda a cerimónia.
Durante a festa abraçou-se à neta e falhou-lhe do avô que já não estava presente. a menina chorou.
O casamento foi em Junho.
Em setembro, a avó vira-se para uma prima e diz-lhe: "Quando morrer vistam-me a roupa do casamento da minha menina, quero estar bonita para quando as pessoas me virem no caixão na igreja."
Passados 4 dias, ela morre.
A menina não chegou a tempo de se despedir da avó, e foi o pai da menina que lhe deu a noticia cuidadosamente, ele sabia que esta avó era a segunda mãe dela.
No dia do funeral, cumpriram-lhe o desejo. Vestida com o vestido que tinha levado ao casamento da neta e confirma-se, estava linda.
Pais, um filho com esposa e filhos. Cuidaram uns dos outros.
Até hoje habita nos seus corações as boas memórias destes dois "velhotes" que já cá não estão.
Deu trabalho, cairam lágrimas, tiveram momentos desesperantes, mas este filho garante que fazia tudo outra vez e se os pais da esposa precisarem faz igual pelos sogros.
Não abandonem os "velhotes" das vossas vidas. Eles são os segundos pais que Deus nos deu. São eles que cá estão para mimarem os netos nas costas dos pais. São eles que educam muitas vezes no escondido.
Eles também já tiveram 20 anos, e nós tambem vamos ser velhos um dia e certamente não vamos querer morrer esquecidos.
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